segunda-feira, 10 de junho de 2013

Rapidinhas sobre O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann

Bom, o filme não me agradou muito e ficam minhas sinceras revoltas após a sessão:

1 - Não aguentarei escutar a expressão "old sport" novamente.
2 - O verde, minha cor predileta, talvez não seja mais digna de tal adjetivo.
3 - Não sabia se assistia a um filme ou a um teatro de marionetes.
4 - Foi uma versão "Michael Bay" da obra, pois é raríssimo se utilizar de tantos cortes em um filme que não seja de ação. Um ritmo frenético, mesmo em cenas de romance ou conversas rotineiras.
5 - A necessidade de explicar a narração do personagem de Tobey Maguire soa até engraçada, exagerada. Palavras na tela, que lindo!
6 - Ok, às vezes achava que estava vendo novamente Moulin Rouge.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Crítica - Faroeste Caboclo (2013), de René Sampaio



Apenas os olhos de um homem aparecem na tela, com a respiração acelerada. Atrás dele, apenas terra, mato. Ouvimos um tiro e o grito de uma mulher fora de campo. Esse é o plano de abertura que compõe a primeira cena do filme, já nos dizendo algo sobre um possível decorrer do mesmo. Transportamo-nos ao título do filme imediatamente. O bandido e o mocinho esculpidos do faroeste sempre nos foram comuns. Mas as facetas do bom e mau sempre podem vir acompanhadas de subjetividade. O acolhimento do universo brasileiro desse duelo, que capta a atenção do interior de cada telespectador, é um dos pontos fortes do bom Faroeste Caboclo.

Inspirado na obra-prima de Renato Russo, a música se eternizou e só agora foi chegar às telas de cinema. O diretor René Sampaio executa um trabalho seguro e bem feito. Não é simples converter a ideia de uma poesia em roteiro para depois rodar 100 minutos de vídeo, portanto o processo de decupagem foi excelente. Diversos aspectos da canção foram modificados ou deixados de lado, pois para dar sentido a uma história e um roteiro eficientes isso era necessário, e o resultado foi surpreendentemente conciso.

A sinopse é simples e bem calcada na música. João (Fabrício Boliveira) deixa Santo Cristo após a morte de sua mãe e tenta a vida em Brasília. Começa a trabalhar para seu primo Pablo (César Troncoso) com venda de drogas, função que o faz encontrar o playboy e traficante Jeremias (Felipe Abib) e o policial corrupto Marco Aurélio (Antonio Calloni), que infernizariam sua vida daquele momento pra frente. Nesse tempo, se apaixona pela linda Maria Lúcia (Ísis Valverde), mulher também cobiçada por Jeremias. O elenco é bom, e com muitas caras desconhecidas para o cinema. Ísis está muito bem nos momentos mais dramáticos, além de cativar a todos com um jeito e beleza naturais. Fabrício é uma ótima revelação, nos oferecendo um personagem humilde e com coração, mas que guarda rancor e ódios passados, conseguindo nos transmitir tudo isso apenas com o olhar.

A pequena explicação do passado de João é contada em poucos flashbacks, que são realizados com auxílio de um raccord sonoro ou de movimento. O barulho de tiro, a posição de empunhar uma arma ou uma respiração ofegante são exemplos de passagens que precedem os cortes das cenas da volta no tempo, nos sendo dispostos de forma mais sutil e fluente. Vale ressaltar que mesmo com poucas cenas, é intensa a interpretação de Flavio Bauraqui como pai de João.

O início do longa se perde um pouco na apresentação das histórias paralelas de João e Maria Lúcia e corre para chegar ao encontros de ambos. Além disso, o personagem principal executa uma narração em off desde o primeiro plano do filme, vindo a estar presente no último também. Não é algo ruim, porém a função de despertar o drama das revoltas, vinganças e até redenções em cada telespectador se torna menos pessoal.

Os acertos do filme são muitos: um ótimo figurino, uma boa trilha sonora e, principalmente, precisa fotografia. Esta nos paralisa não só esteticamente, mas tecnicamente é correta como, por exemplo, contrastar o rosto de João inúmeras vezes, nos lembrando do dueto de sua personalidade, “bom moço” e assassino. Planos americanos (do joelho à cabeça) e closes nos olhos são aspectos interessantes para fazer referência ao típico faroeste nas cenas de combate. E esse elemento não soa artificial, e ainda vem acompanhado de uma música quase de western, mas feita com as arranhadas de guitarra do rock de Brasília dos anos 80.

A canção que dá origem ao título do filme só é realmente tocada nos créditos finais, o que se mostra corajoso e importante. Não há porque nos antecipar algo conhecido e que foi modificado em desenvolvimento. Mas escutá-la e perceber sua dimensão  com o filme concluído, ainda nos faz analisar os detalhes transpostos na tela com todo cuidado.

O aspecto da batalha interna dos indivíduos entre o bem e o mal, mais ainda: o certo e o errado. E claro, o amor tenta perdurar acima disso. Claro que temos um retrato da vida de tantos, que se identificarão. E a Brasília dos anos 80 pincelada pelo filme é fiel por meio do que se mostra nas televisões, jornais, festas, música. Até de forma mais eficiente que o recente filme Somos Tão Jovens, também relacionado a Renato Russo.

Faroeste Caboclo consegue captar nossa atenção e prevalecer como excelente documento cinematográfico das palavras de um poeta já adormecido. Lembra-nos que a estrada importa  e que lutamos para deixar algum rastro, seguir o que acreditamos. Parece banal, tão banal como um duelo de “bang bang”. Mas perdendo ou ganhando, arriscamos.



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Crítica - As Vantagens de Ser Invisível (2012), de Stephen Chbosky



“Nós aceitamos o amor que acreditamos merecer.” Essa frase, dita pelo professor de inglês Anderson (Paul Rudd) e repetida por Charlie (Logan Lerman) ao longo do filme, talvez seja a reflexão que fique com cada espectador ao final de As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, 2012).

Dirigido por Stephen Chbosky, o filme é a adaptação de seu próprio romance (de mesmo nome do longa) e best-seller, do ano de 1999. A história rodeia Charlie, no início dos anos 90, um garoto que aos 15 anos se sente sozinho pela morte de seu melhor amigo e lida com o desafio e medo de entrar no ensino médio. Tímido e depressivo, ele ainda sofre com a morte de sua tia Helen (Melanie Lynskey) quando era mais novo. Mas é quando Charlie conhece Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), dois veteranos da escola, que sua vida começa a mudar e os dramas da adolescência começam a surgir.

Ezra Miller (de Precisamos Falar Sobre Kevin) dá mais um show de atuação, vivendo um garoto homossexual que mantém relações escondido com Bradd (Johnny Simmons), um veterano jogador de futebol americano. A agradável e cativante Emma Watson nos faz esquecer completamente a bruxa Hermione no primeiro momento que a avistamos, representando uma garota que sofreu nas mãos de homens quando mais nova. Lerman (de Percy Jackson e o Ladrão de Raios) também não faz feio e consegue nos transmitir toda a sua angústia e ao mesmo tempo poucos e belos momentos de felicidade e liberdade do garoto Charlie.

A trilha sonora do filme, realizada por Michael Brook (o mesmo de Natureza Selvagem), merece aplausos. The Smiths, Pavement, New Order e outras ótimas bandas dos anos 70 e 80 estão presentes. Mas é “Heroes”, de David Bowie, que é presente em momentos que são difíceis de não se emocionar e acaba sendo a perfeita tradução dos adolescentes do filme.

O cunho pessoal do diretor acaba não sendo algo prejudicial, mas uma vantagem. Cada personagem ganha seu tempo e é tratado com delicadeza e cuidado. O roteiro é extremamente pontual, sem deixar-se cair em clichês de filmes adolescentes ou indies românticos da moda, apesar dele estar nessas categorias. A técnica de Chbosky é sutil e alguns diriam falha, com uma fotografia desajustada (que até nos permite ter mais intimidade com os personagens) e cores escuras em grande parte do filme. Mas são as atuações e os diálogos que reforçam a ideia do mesmo, fazendo tudo se encaixar e nos propiciando cenas memoráveis.

Amor, drogas, depressão, rejeição e outros temas são tratados no filme e não de maneira superficial. Não é um longa feliz e nem triste. Lágrimas e risos serão bem vindos e quando os créditos surgem, já ficamos com saudade das emoções que passaram voando em 103 minutos.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Crítica - Elena (2012), de Petra Costa














“Quando você sentir saudade, encoste a concha no seu ouvido e assim a gente pode se falar”, disse Elena à irmã Petra ao entregar-lhe uma concha de presente, prestes a viajar rumo aos Estados Unidos para tentar se tornar a atriz que tanto almejava. Não é por acaso que ouvimos barulho de água ainda com a tela escura, para em seguida o mesmo elemento tomar forma no primeiro plano do filme.

Autora do premiado curta Olhos de Ressaca, Petra Costa Costa se arrisca em um profundo projeto pessoal e, ao mesmo tempo, universal. A ideia surgiu (quando ainda adolescente) após encontrar o diário da irmã, mas só veio a ser desenvolvida agora. O documentário aborda a vida de Elena e o relacionamento entre ela e a mãe, até mesmo o pai e, principalmente, Petra. Esta tenta seguir os últimos passos da irmã voltando à Nova Iorque. Mas o foco da obra se debruça nas diversas turbulências vividas pelo trio feminino e suas dimensões e consequências, no sentimental, no tátil.

Aos dezessete anos, Elena acaba por se suicidar após passar por momentos de depressão, desilusão e diversas tentativas frustradas de conseguir emprego e seguir no ramo artístico. Se sentindo vazia, se esvai da vida da irmã aos sete anos, que junto com a mãe passam a lidar com a dor e viver com memórias irrigadas de beleza e sofrimento.

A estética do filme é impressionante. Há um apelo extremamente sensorial, que nos comove e atrai para a narrativa do filme, que se dá em off pela voz da diretora e, às vezes, se confunde com a própria Elena. Fato que se justifica já que a união e separação, em conjunto, nos dão a figura de superação e fragilidade da mulher. A fala de Petra é acompanhada por imagens e vídeos, nos fazendo imergir na história. Quando se fala em choro, pingos de água escorrem na janela. Já em um momento de tristeza descrito por Elena, onde a mesma se via como um fantasma dentro de um trem, a irmã se deixa refletir em planos rápidos e internos de um vagão. Portanto, a forma de passar toda a carga dramática para o espectador é realizada de maneira ímpar e sutil como carta-documentário, anexada de lembranças reais e imaginárias.

É outro acerto da realizadora destoar-se do ambiente, retirando o foco de seu redor (pequena profundidade de campo) ao andar pelas ruas. Perdida, tentando se encontrar e angustiada. O evento causa aos espectadores uma claustrofobia, que é desfeita no final, onde o longa volta ao tema da água, fazendo referência à Ofélia, de Shakespeare, numa cena belíssima que funciona quase como um ritual.

Petra se permite materializar como personagem e atriz, sendo corajosa em tratar de um assunto desgastante e doloroso (se submeteu a alguns anos de terapia e tratamento em conjunto com a mãe) com beleza, sensibilidade e eficiência. Nas danças da vida, todos passarão ou já passaram por perdas significantes e devemos lidar com elas, mesmo que diferentemente.

Ao som da bela música Turn to Water, interpretada por Maggie Clifford, começaria a ser anunciado um fim de um relato emocionante. Mas ergue-se a afirmação da sintonia da diretora com a “inconsolável perda”, ao permitir a si mesma e a todos respirarem, diluindo-se, convivendo com a mesma. Não existe mais concha, apenas o som, a água, um só.


quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Era da Tela - O Horizonte dos Trilhos da TV e do Cinema

Andava pensando sobre o papel do cinema atual. Mais que isso, sua profundidade e alcance. As novas mídias mudaram a forma de repassar informações para as pessoas. Agora, raramente se fala "televisão". Estamos ao mesmo tempo no smartphone, no tablet e com a tv ligada. Ou seja, diversas telas "on" simultaneamente. Não há interferência, e sim conexão entre todos. Uma simbiose de informações, complementando toda forma de divulgação de imagens e textos entre as plataformas existentes. Claro, isso afeta o modo como produtores, diretores e todos os envolvidos na tv e cinema elaboram seus novos projetos e ensaios. O cinema piorou? A televisão melhorou? Ou nosso filtro para coletar o que nos cospem é o principal? Coincidentemente li na Folha de São Paulo dois bons textos, na edição de ontem, que gostaria de compartilhar. Pincelam pensamentos interessantes sobre o debate da televisão e cinema nos dias de hoje e a forma errônea de pensar neles como inimigos.


Jornal Folha de São Paulo, 15 de maio de 2013


Luciano Trigo: Olhar para frente


"Quando vamos ao cinema, olhamos para cima. Quando vemos televisão, olhamos para baixo." As palavras de Jean-Luc Godard me vieram à cabeça quando li na Folha uma declaração do cineasta Fernando Meirelles que, pouco tempo atrás, seria recebida como herética ou estapafúrdia: "A TV é hoje mais interessante que o cinema" ("Ilustrada, 23/4). E, no entanto, é difícil discordar quando se pensa na qualidade de alguns conteúdos televisivos.

Não se trata de forçar uma comparação que pode ser descartada como artificial ou fútil, já que sempre houve bons conteúdos na TV, assim como maus filmes no cinema. Mas alguma coisa está mudando. A hierarquia implícita na declaração de Godard, que prevalece desde a invenção da TV, está sendo pela primeira vez desafiada, por motivos tecnológicos na origem, mas com implicações que ainda não são claras para o futuro das duas mídias.

Historicamente, todas as teorias do cinema tiveram como fundamento a busca pela especificidade do meio, isto é, a investigação sobre os elementos da linguagem, forma e técnica que lhe conferiam autonomia.

O impacto cultural e econômico da chegada da televisão obrigou o cinema a mergulhar num processo de reinvenção --até por necessidade de sobrevivência, já que a frequência às salas despencou. A indústria apostou então em inovações que tentaram preservar, com êxito variado, o caráter único da experiência cinematográfica.

A mensagem formulada pelos teóricos passou a ser esta: por mais cômoda que seja para o espectador, alterando seus hábitos de consumo audiovisual, a televisão jamais terá a espessura estética e a força sedutora do cinema. Este simplesmente não cabe na tela da TV, um meio inferior e vulgar na sua essência.

Isso está acabando. A convergência digital eliminou, primeiro, a própria materialidade da diferença: com o fim anunciado da película, a imagem televisiva e a imagem cinematográfica passam a compartilhar a condição de informação pura, que pode circular nas mesmas e em múltiplas telas.

Há outros processos em curso: se o cinema não cabia na TV, conteúdos tipicamente televisivos já invadem as salas, como eventos esportivos. Por outro lado, nasce uma nova cinefilia facilitada, paradoxalmente, pelo YouTube, que se torna o meio de acesso básico ao acervo cinematográfico do passado: adolescentes chegam à "nouvelle vague" e ao cinema novo por meio da internet.

Dilui-se, assim, a fronteira que separava a experiência compartilhada e nobre da sala escura da experiência dispersiva e banal do consumo doméstico.

Com o fim da especificidade cinematográfica, alicerce teórico do pensamento sobre o meio por mais de um século, cria-se um novo paradigma audiovisual, e quem não compreender esse processo corre o risco de cair na irrelevância.

Por outro lado, a convergência, que costuma ser analisada apenas em termos de tecnologia e serviços, terá também efeitos estéticos preocupantes. Para que os mesmos conteúdos circulem, sem perda expressiva de qualidade, pelas telas do computador e da TV, do cinema e do celular, há o risco de uma convergência de linguagens potencialmente empobrecedora.

Os caminhos e espaços para a invenção autoral serão outros, o que dará talvez razão a Meirelles e tornará obsoleta a visão de Godard: é na TV, e não mais no cinema, que os criadores estão encontrando as condições de desenvolver um laboratório experimental para produzir novos modelos de narrativa audiovisual e de comunicação com o público. O negócio não é olhar para cima nem para baixo, mas para frente.
LUCIANO TRIGO, 48, jornalista e escritor, é especialista em regulação da Ancine (Agência Nacional do Cinema)

Renata de Almeida: Lua de mel


A TV é hoje mais interessante que o cinema? Não! Talvez a pergunta pudesse ser esta: a televisão que você tem assistido hoje é mais interessante do que o cinema que você tem visto? Não sei por que o elogio muitas vezes é ligado à necessidade da comparação, como se o objeto não pudesse ser bom por si só.

Já ouvi essa frase várias vezes, sempre ligada ao cinema norte-americano, mas parece que agora se generalizou. Talvez esteja em voga no Brasil porque vivemos uma lua de mel com a televisão, graças à lei da TV paga. A medida está revolucionando o mercado para os produtores independentes e abrindo o caminho para novos olhares, o que é sempre muito positivo.

Ao mesmo tempo, temos a internet, Netflix, Now, AppleTv e, claro, os lançamentos em DVD. Isso possibilita vermos séries, americanas principalmente, de uma só vez ou conforme a nossa vontade.

Mas não é de hoje que as séries americanas são boas ou ousadas. É só lembrar do Agente 86 em plena Guerra Fria ou de "Mash" durante a Guerra do Vietnã. Também não é de hoje que a televisão brasileira tem programas com um ótimo padrão de qualidade.

Mas nada substitui o cinema. Os filmes antigos e também os atuais, que continuam, sim, muito interessantes. Claro, dependendo do que cada um se dispõe a ver. Ou do que cada um consegue ver por causa do pequeno circuito de salas exibidoras para o tamanho do país.

O nível de exigência e a atitude que temos quando vemos um filme não são os mesmos de quando vemos TV. As séries podem errar mais, porque no próximo capítulo você pode ser compensado. Isso não é possível no cinema, em que a relação tem que ser construída rapidamente e uma história tem que ser contada em poucas horas.

E, ainda assim, ele comporta vidas inteiras. Basta lembrar de "Nós que Nos Amávamos Tanto", "1900", "Era Uma Vez no Oeste" ou "2001 - Uma Odisseia no Espaço".

Na Europa, a relação do cinema com a televisão sempre foi muito próxima, muitas vezes simbiótica. Por isso, essa afirmação não faria muito sentido por lá. Grandes nomes do cinema como Bergman e Fassbinder fizeram trabalhos para a TV e outros continuam fazendo.

Felizmente, no Brasil, parece que está acontecendo algo parecido: profissionais de televisão se tornaram também profissionais de cinema e vice-versa.

Grandes nomes do cinema brasileiro de hoje fizeram seus primeiros trabalhos na televisão, muitas vezes excelentes, mas foi no cinema que conseguiram a sua consagração. Então, esperemos que eles não abandonem o fazer cinema, que pode ser desgastante, levar anos e ser arrasado com uma frase leviana.

Muitas histórias não podem ser diluídas em vários capítulos. Se ainda tivermos o prazer de ver um filme em uma sala grande, o cinema se torna uma experiência única. Mas, se perdermos essa oportunidade, ainda poderemos contar com a televisão e seu maravilhoso poder de democratizar a informação.

Esperamos com isso que os diretores e produtores fiquem mais satisfeitos com o seu público, que tem que ser contabilizado em todos os formatos que hoje o cinema possui.
RENATA DE ALMEIDA, 47, é diretora da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo




terça-feira, 14 de maio de 2013

Crítica - Senhoras e Senhores: Corte Final (2012), de György Pálfi


Começo com uma crítica antiga, minha segunda realizada. Pois esse filme me faz lembrar o quão importante é o cinema, não só individualmente, mas como contador de histórias e formador de opiniões. Nada melhor para iniciar um espaço para críticas, debates e alguns momentos de desvario, por que não?




Senhoras e Senhores: Corte Final (2012)


Eis uma das surpresas do ano. Uma homenagem e, mais que isso, uma devoção ao cinema. Esse é o objetivo, atingido de forma brilhante, do diretor húngaro György Pálfi.




Um homem e uma mulher são unidos pelo acaso, embriagados por um amor à primeira vista. Mudanças e situações difíceis virão: gravidez, emprego, família etc. Com um enredo comum e até bobo, Senhoras e Senhores: Corte Final (Final Cut – Hölgyeim És Uraim) nos fascina não pela história, não pelo fim, mas pelos meios.

Por intermédio da cena inicial (onde um homem desperta pela manhã e se dirige ao banheiro para se barbear) já percebemos que diversos filmes passarão diante dos olhos dos espectadores, pois Kirk Douglas e Woody Allen são apenas alguns dos rostos que compõe a mesma. Recortes que percorrem a história do cinema (desde A Chegada de um Trem na Estação, dos irmãos Lumière até Avatar, de James Cameron) são ordenados de forma espetacular e precisa, permitindo o desenvolvimento da trama, mesmo que esta não exija complexidade.

Porém, complexo e paciente é o trabalho dos montadores e de Pálfi, que por mais de três anos coletaram e selecionaram momentos belíssimos de filmes dos mais variados países. Por meio de uma edição trabalhosa e precisa, assim como a mixagem de som (é este fator que une cenas e personagens entre os cortes) somos levados por uma simples história de amor, feita por um apaixonado pela sétima arte.

A magia do cinema é universal e contagiante, portanto é difícil não se pegar tentando adivinhar os filmes que aparecem, dando risadas pelo modo que são realinhados no longa, os distinguindo dos personagens originais (exemplo de Charles Chaplin dançando ao som da trilha de Os Embalos de Sábado à Noite, ou até mesmo o espanto de Anthony Perkins ,em Psicose, após espiar a espetacular virada de pernas de Sharon Stone, em Instinto Selvagem).

Sair do cinema após Senhoras e Senhores é perceber a dimensão dessa arte, com um belo sorriso no rosto. Todos são tocados pela sua imensidão e história, e quão maravilhosa e rica ela é.